Eram as primeiras horas do sol no dia, a cinza da fogueira soltava fumaça e eventualmente uma brisa revelava a brasa sob a fuligem. Ele, filho do vento e da chuva, um dos que detém os chifres. Tocador de flauta, gaita e tambor, despertando ainda da noite das fogueiras. Onde com mais uma multidão de espíritos, femininos e masculinos, dançou ao redor do fogo, da grande pedra-mãe onde está agora recostado, do Jequitibá-Rei, que abençoou a todos, e da nascente das Deusas, que também estavam lá a dançar. Ele, que acorda espreguiçante d´um sonho de sussurros, se levanta sobre a pedra-mãe e procura algo, ou melhor, pesca algo no ar com seu pensamento afiado feit´um anzol e diz ao vento: - Quem eras tu? – Somente o farfalhar de um adormecido Rei-das-árvores-do-sul, o ranger do bambuzal na margem da nascente, o borbulhante nascer das águas na fonte das Deusas e o flop-flop-flop de uma pequena borboleta vermelha que passa raspando em seus cílios são as respostas. - Ai Está! – Ele diz enquanto tenta agarra-la sem sucesso, desequilibrando, escorregando seus cascos no orvalho da pedra-mãe, caindo sentado na pedra fria e rolando até o chão. Deitado de costas, de braços e pernas estendidos, uma outra borboleta aparece e pousa em seu, um pouco peludo, nariz.– Ah, te pego! – Ele fecha as duas mãos rapidamente, pegando nariz e tudo! – Ahá! – Afastando vagarosamente as mãos, vê-se apenas um nariz, um pouco peludo, entre elas. E pousadas, em seu casco da perna esquerda a tal rubra borboleta e no da direita uma outra verde-laranja. – Mas que! – Ele levanta num salto e leva um baita susto quando sua vista fica turva. Pois tantas borboletas assim só se vê numa corte real das metamórficas aladas. E era isso mesmo o que estava acontecendo! Cada uma delas era uma fada, uma donzela, uma dríade que dançava no grande ritual da noite passada. – Oh Deuses! – E como passavam rápido por ele! Até que ele a viu, uma borboleta colorida, cor de arco-iris e prateada, rodeada por todas as outras. – É ela! É ela! – Diz enquanto dança de felicidade. Mas elas, as borboletas passaram voando céleres e felizes e o deixaram para trás. Ele sabia que era Ela, a Deusa colorida de prata, borboleta rainha, que havia dançado com ele na noite anterior, sob o grande “Jequitibão”(Assim era como os íntimos, tolos ou os corajosos chamavam o Jequitibá-Rei). E era ela que deitou com ele á luz da fogueira-mestre. – Não se vá! Amor! Amor! – De braços estendidos, desolado, ele apenas queria vê-la mais uma vez, e guardar sua imagem para sempre em seu coração. - Ah senhores do mundo! Eu quero vê-la! Muito! Muito! Muito mesmo! – Ele chora e joga sua flauta na brasa. Eis que como um presente, o impacto da flauta com a brasa irradia um clarão imenso, como o de mil fogueiras do próprio Sol invicto! Cego momentaniamente (E muito assustado!) ele tateia o chão á procura de seu instrumento. Ele acha algo parecido, mas não o mesmo. Ele olha(com o olhar ainda enevoado e meio roxo) e percebe do que se trata: Uma luneta! Ou melhor, como estava escrito em pirografia divina: Uma Borboneta! Ele olha através de sua lente minúscula na direção do cortejo real das borboletas, que já alcançava o horizonte...
Um comentário:
Ei...sou eu!!!
Essa boboneta é realmente mto boa...
Postar um comentário