sábado, outubro 10, 2009

Uma serpente ondula em minha pele.
Entre espirais, sua fina língua trifurca-se.
Do Veado, as coxas e a galhada dançam.
Como a velha arvore ao som do vento.
A coruja, o corvo e o carcará cantam.
Cada um em sua hora mágica noturna.
Minha pele, o tambor trêmulo, se estica
ao contrair da carne. Em pleno golpe violento.
Da mão. Da lança. Da palavra. Do olhar.
O ato destemido, sem urro ou grito. Canção.
Meu escudo pintado, curvas de minha arte.
Que se confundem pictóricas em meu contorno.
E com o desenho-rastro de minha dança.
Sorridente, extasiado, me movo.
Há no fundo do mundo uma serpente.
De penas sujas e chifres afiados. Sua flauta.
Minha flauta. Doce e grave soa uníssona.
Com a grotesca trombeta de guerra.
Devoradora da carne e da paz da noite.
Enluarada sobre minha testa, levanta
Acorda, sacode-se e sussurra malícicas
Linda, nua e musa. A Porca Branca.
Pragueja em conjunto à minha investida.
Me leva, como se montado em rodas de
Um carro de guerra, trono do medo.
Megera, minha rainha, alucinado luto.
Morro.
Ou amo.
Como espirais sem destino ou fim.
A arte traçada na pele-alma em mim.
São essas trilhas que de quando em quando
Ando.

Carcará Avoador dos Caminhos Tortos
Bruno Oliveira
10/10/09

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