segunda-feira, dezembro 15, 2008

Rito de passagem...





Juro pelo fogo de minha alma, achei que ia morrer.
Ela me olhava com aqueles olhos cristalizados e sentia o frio medo da absoluta solidão. Era como se mesmo eu estivesse me abandonando à sorte. Eu não entendia como, mas ela agora era uma rainha, uma Deusa da morte, a que desteçe as almas. Seu rosto branco feito a lua era minha única luz. Era como se eu estivesse recém-nascendo ou recém-morrendo. Aquele rosto de todas as eras, luminoso e pálido, era meu túmulo, meu túnel da morte, minha luz no fim da vida. Seus olhos-janela negros me mostravam o que viria após a luz. Somente escuridão.
E o ruído da morte me fez mais vivo do que nunca. Era o som da espada desembainhando-se e a impactante sensação do fim. Minha pele embolotou-se toda num arrepio. Calafrios incessantes ondulam e ecoam por minhas entranhas.
Tudo se apaga, os sons dos morcegos, dos gotejares e do vento, a luz do rosto medonho. Não se sabe onde estamos. Não se sabe se há chão sob os pés.
Até que apenas dois olhos me aparecem no breu. Os mesmos olhos-janelas. Sinto como se meu corpo estivesse em queda livre. Caindo no poço incrivelmente fundo daqueles olhos. Eles estavam me engolindo! Já me preparava para o impacto no chão de olhos terríveis quando, de súbto, tudo mudou violentamente.
Eu, em pé, sentia um desespero que não entendia. Percebia que não havia caído. Estava assustado. Os olhos d´Ela estavam no mesmo lugar de sempre. Estava confuso. Minha alma era o caos. Como se todo o universo dançasse em minha cabeça. Estava vivo.
Até que percebi a mão magra retesada em meu pescoço. – Viva você que sabe o que é morrer! - Ela me disse. As mãos se afrouxam de minha garganta e a onda de calor me invade. Volto a escutar os morcegos, o gotejar e o vento. Olho e estou só. Amanhecendo numa gruta embrenhada na densa mata. Sobrevivi.