sábado, novembro 15, 2008

Desabroche, Ó Universo.

Num círculo de pedras, uma criança dança. Ele beija a pedra do sol que nasce e a pedra do sol que morre. Ele beija a pedra do norte quente e a pedra do sul frio. E a diante a pedra da lua que nasce está a criança que mamou nas tetas da lua cheia. Ela é a nova criança, da lua nova que cresce e se forma a cada instante. Ela também quer o beijo. E ele, menino, que também mamou nas tetas da lua, nasceu há instantes no vale em que o sol renasce. Renasce sempre entre as coxas das belas montanhas. Ele, entusiasmado e medroso corre para o beijo. Ela corre e ele cai. Ela, menina que se transmuta. Ele, menino que se assusta e quer crescer. O sangue escorre do joelho caído. Ele, agora impetuoso, brilha o sol em tua alma, avança n´ela. Ele, novamente cai. Ela, sorrindo e admirando o esforço do garoto, não deixa transparecer seu sentimento. Ela o quer. Ela o quer mais que tudo no mundo. Ele, o desejado rapaz, fruto da grande árvore da vida, brilhante filho do Sol-entre-as-montanhas. Ele, apenas ele, é o que ela quer. Mas ele tenta, corre, pula num salto felino, mas não consegue agarrá-la. Ela sorri cada vez mais excitada com o crescimento do rapaz. Ela, que é senhora de si, filha das senhoras-de-si de todas as épocas. Antiga criança, nova mulher. Ele vê isso. Ele, que foi criança, antes, uma promessa, hoje, comprido homem. Sua espada é jogada ao chão. Sua flauta, de som doce e viril entoa o chamado. E Ela, que até aquele momento era mulher. Agora em Deusa se forma. Na dança ancestral ela rodopia. E o mundo vê as estações, conhece a primavera pela primeira vez. Vê as flores brotarem ao pé das pedras. As árvores crescerem a fundo pela terra e a fundo pelo céu. O mundo gira e o vento nasce e descobre a dança. Cai uma semente e nasce um cajado. Ela senhora dançarina das feiticeiras, toma a flauta do homem. O homem encontra seu cajado. Sua barba longa com miçangas e tranças, seu corpo talhado por trabalho e tatuagens. E golpeia a terra com seu cajado. Ela tocando a flauta, e ele tocando o coração do mundo. Nascem e morrem os animais, surgem e desaparecem montanhas, florestas e oceanos. Surge o tambor. Treme terra, chove chuva, queima fogo, venta vento e o mundo gira, alucinante em todo perfume de todas as flores do mundo.


Bruno Oliveira - Agora que entendí esse texto, posso publicar...

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